Programa de auditório
foto: www.puramemoriadealgumlugar.blogspot.com.br
Quem está perto dos 40 anos vai lembrar desse tempo com carinho! Nos anos 80, todo artista tinha que se apresentar nos programas de auditório da época fazendo playback. Era o programa do Bolinha, do Raul Gil, e principalmente do impagável Chacrinha!
Todo mundo queria aparecer no Chacrinha, pois era o horário filé da rede Globo no sábado à tarde. A vitrine era imensa, principalmente para as novas bandas do rock nacional que estavam despontando naquela época. O problema é que para aparecer no programa, os artistas precisavam participar de um esquema comandado pelo filho do velho guerreiro. As bandas precisavam se apresentar fazendo playback em 5 ou 6 eventos no subúrbio do Rio de Janeiro, todos na mesma noite. Era realmente ridículo e cansativo. O Capital Inicial se revoltou e contou o esquema para o jornal "A Folha de São Paulo". O Chacrinha disse que não sabia de nada e passou a convidar o Capital para ir ao programa quase toda semana, só pra mostrar que o esquema não era verdade.
Para qualquer programa de auditório, as bandas entravam no palco totalmente desplugados, e o baterista precisava dublar a música apenas com a caixa e um prato. Desse jeito, muitas bandas acabavam tirando um sarro mesmo. Em um programa do Bozo, por exemplo, João Barone, baterista dos Paralamas do Sucesso, ao invés de entrar com a caixa e o prato, entrou empunhando uma guitarra mesmo. E os Ratos de Porão, que em apresentação no programa da Angélica (?!?!), João Gordo trocou de lugar com o guitarrista Jão. O primeiro dublou a guitarra, e o segundo a voz. Até a Legião Urbana já aprontou em apresentação no Chacrinha, quando Marcelo Bonfá entrou no palco com um baixo, e Renato Rocha, o baixista na época, entrou tocando um pandeirinho.
Aliás o Chacrinha adorava uma farra. A sua irreverência propiciava momentos um tanto constrangedores para os artistas. Imaginem a Legião Urbana "tocando" e o velho guerreiro apartando uma buzina dessas de vendedor de rua, seus assistentes de palco jogando peças de bacalhau no público. Certa vez, Chacrinha pediu para que o Russo, seu mais célebre ajudante, passasse a mão na bunda de Tim Maia enquanto ele se apresentava. Tim ficou tão irritado, que jogou o microfone no chão prometendo nunca mais voltar. Acabou voltando...
Quem se preparava mesmo para fazer o playback eram os Titãs. Eles contrataram uma coreografa para ajudá-los em todas as dancinhas que faziam na TV, e o resultado ficava bem divertido. Combinaram que ao final das músicas, eles deveriam ficar paralisados na posição conforme a coreografia, até que o apresentador entrasse no palco para encerrar o número. O apresentador Bolinha, em seu programa da Bandeirantes, quando percebeu como a banda finalizava a apresentação, subiu ao palco dizendo “Parados, ninguém se mexe!”, e deixou os caras congelados na frente do publico durante um bom tempo.
O Ira! odiava essas apresentações. O Nasi, seu vocalista, já comentou que a banda simplesmente não sabia fazer a dublagem. Na verdade o que todas as bandas queriam mesmo era se apresentar no programa “Perdidos na Noite”, apresentado pelo Fausto Silva na Bandeirantes, pois lá a banda entrava tocando de verdade, e ainda tocava o que quisesse. ”Quem sabe faz ao vivo!”
Até a próxima!